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Foi mais poderosa aquela que mais amou

Posted by Luiz Fernando Vieira

     Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor onipotente desde a infância, costumava visitar o irmão, uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta. Certo dia, veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi ao seu encontro. Passaram o dia inteiro a louvar a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando sentaram-se à mesa para tomar a refeição. Como durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe: “Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu-lhe:“Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela”.
      A santa monja, ao ouvira recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor onipotente. Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde estavam.
      Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se,dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que fizeste?” Ela respondeu: “Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro”. E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou. Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada
celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a
Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor; enviou dois irmãos a fim de trazerem o
corpo para o mosteiro, onde foi depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.
E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.
                                       Diálogos de São Gregório Magno, papa
(Lib. 2,33: PL 66,194-196)
(Séc.VI)
 

Modelo de Castidade

Posted by Luiz Fernando Vieira

A comemoração do aniversário de Santa Águeda nos reúne a todos neste lugar, como se
fôssemos um só. Bem conheceis, meus ouvintes, o combate glorioso desta mártir, uma
das mais antigas e ao mesmo tempo tão recente que parece estar agora mesmo lutando e vencendo, através dos divinos milagres com os quais diariamente é coroada e ornada.
A virgem Águeda nasceu do Verbo de Deus imortal e seu único Filho, que também
padeceu a morte por nós. Com efeito, João, o teólogo, assim se exprime: A todos
aqueles que o receberam, deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo
1,12).
É uma virgem esta mulher que nos convidou para o sagrado banquete; é a mulher
desposada com um único esposo, Cristo, para usar as mesmas expressões do apóstolo
Paulo, ao falar da união conjugal.
É uma virgem que pintava e enfeitava os olhos e os lábios com a luz da consciência e a
cor do sangue do verdadeiro e divino Cordeiro; e que, pela meditação contínua, trazia
sempre em seu íntimo a morte daquele que tanto amava. Deste modo, a mística veste de
seu testemunho fala por si mesma a todas as gerações futuras, porque traz em si a marca indelével do sangue de Cristo e o tesouro inesgotável da sua eloqüência virginal.
Ela é uma imagem autêntica da bondade, porque, sendo de Deus, vem da parte de seu
Esposo nos tornar participantes daqueles bens, dos quais seu nome traz o valor e o
significado: Águeda (que quer dizer “boa”) é um dom que nos foi concedido por Deus,
verdadeira fonte de bondade.
Qual a causa suprema de toda a bondade, senão aquela que é o Sumo Bem? Por isso,
quem encontrará algo mais que mereça, como Águeda, os nossos elogios e louvores?
Águeda, cuja bondade corresponde tão bem ao nome e à realidade! Águeda, que pelos
feitos notáveis traz consigo um nome glorioso, e no próprio nome demonstra as ilustres
ações que realizou! Águeda, que nos atrai com o nome, para que todos venham ao seu
encontro, e com o exemplo nos ensina a corrermos sem demora para o verdadeiro bem,
que é Deus somente!
 
Sermão na festa de Santa Águeda, de São Metódio da Sicília, bispo
 

Uma monja desconhecida

Posted by Luiz Fernando Vieira

“Crer que um ser que se chama Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite, e nos pede que vivamos em sociedade com Ele, eis aquí, garanto-vos, o que tem feito de minha vida um céu antecipado”.

     A beleza da Igreja passa pela vontade do Pai, que por amor de seu Filho, O torna adorado, glorificado e amado na Igreja, sob o impulso do Espírito Santo.
     Compreendendo as necessidades da Igreja, os homens se tornam vocacionados da fidelidade, para que, seja em regresso ou progresso, a Igreja seja fiel à Deus.
     Deus envia almas capazes de dar resposatas que satisfazem e alcançam eficácia inagualável. Ao contrário do mundo, as respostas de Deus ao nosso tempo são admiravelmente contraditórias do que se espera e ao mesmo tempo corresponde de forma completa suas necessidades.
     Homens esperam milagres. Multidões aguardam santos e profetas. O mundo deseja renovaçãoe avanço. Enquanto Deus é simplicidade e objetivo.
     Nosso palco para reflexão será a França no século XVI, fortemente marcada pela ascenção da Revolução Francesa e o Iluminismo. Poderíamos citar insignes mártires como a Beata Teresa de Santo Agostinho e suas 16 companheiras mártires na perseguição francesa. Poderíamos citar a gloriosa doutora Santa Teresinha, com sua singular doutrina da via excelente, até mesmo citar suas máximas sobre a divina ciência do amor.
    Porém, na dinâmica histórica de que tudo passa, cabe-nos a certeza de que a verdade sempre permanece!
    Cristo pregou o evangelho, mas Ele mesmo foi antes de tudo e de todos, um praticante da própria palavra que pregava.
     Elizabeth nasceu na França em 1880, filha e neta de militares, seu nascimento aconteceu justamente em um acampamento militar. Desde menina distinguiu-se por seu temperamento agressivo e ao mesmo tempo apaixonante e inclinado à uma alta sensibilidade. Assim nos conta sua mãe:
 “Quando tinha um ano, já se manifestava a sua natureza ardente e colérica... Foi pregada uma missão durante a nossa estadia devendo terminar com a bênção das crianças. Uma religiosa veio-me pedir uma boneca para representar o Menino Jesus, no presépio, devendo vestir-se com um traje cheio de estrelas douradas e irreconhecível aos olhos da menina. Levei-a à cerimônia. A criança esteve distraída com as pessoas que chegavam, mas quando o prior do alto do púlpito anunciou a Bênção, Elisabeth deitou um olhar sobre o presépio e reconheceu a boneca e, num ímpeto de cólera, com o olhar furioso, exclamou: ‘Jeanette! Dêem-me a minha boneca!” A criada teve de a levar no meio duma risada geral. Esta natureza ardente e colérica cada vez mais se acentuou...” (RB 1,2-3).
     Seu pai faleceu no dia 2 de outubro de 1887, de repente, vítima de uma crise cardíaca. Elisabeth, que tinha então sete anos e dois meses relembrará dez anos mais tarde essa hora trágica. A morte do pai causará a “conversão” e mudança de caráter de Elisabeth. como fruto de sua vida de ascese e oração.
     Faz sua primeira comunhão no dia 19 de abril de 1891, em Dijon. Indo com outras companheiras visitar o Carmelo recebe um “santinho” da Priora, Madre Maria de Jesus, que na dedicatória traduz o nome Elisabeth por “Casa de Deus”. Sete anos depois da sua primeira comunhão, Elisabeth escreverá:
" Nesse dia...

Em que Deus fez de mim sua morada,
Em que Deus se apoderou de meu coração,
E de tal modo o fez que, desde então,
Desde esse misterioso colóquio,
Essa conversa divina, deliciosa,
Só aspirava a dar a minha vida,
a retribuir um pouco o Seu grande amor
ao Bem-Amado da Eucaristia
Que residia no meu pobre coração
Inundando-o de favores."
     Desde os oito anos estudou música no Conservatório de Dijon. Todos os dias passava horas ao piano. Muitas vezes participou em concertos organizados na cidade. Seu talento precoce merece elogios nos jornais locais. No dia 24 de julho de 1893, apesar da sua pouca idade, obteve o primeiro prêmio de piano do Conservatório.
     A jovem Elisabeth freqüentará a sociedade local. Conta-se que antes de sair para as festas, ela entrava em seu quarto e rezava a Nossa Senhora, que nenhum rapaz da festa se apaixonasse por ela, visto ser apaixonada por Cristo. No decorrer de uma festa, enquanto dançava e se divertia, a Sra. Avout, surpreendeu o seu olhar e lhe segredou: Elisabeth, não estás aqui, estás vendo Deus...” Havia nos seus olhos “um não sei quê de luminoso que irradiava”.
     Sem a permissão da mãe, Elizabeth só consegue ingressar no Carmelo de Dijon quando completa 21 anos. Na vida monástica encontrou todos os desejos de sua alma, fez de sua vida, uma doutrina sólida, apesar de uma vida curta, visto que Irmã Elizabeth falece aos 26 anos em 1906.
      Em sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas.
      Foi beatificada pelo papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984, festa de Cristo Rei. Hoje, dia 08 de Novembro é sua festa.
      Dentre os beatos e beatas da Igreja, A Irmã Elizabeth da Trindade possui uma centralidade muito singular, ela numa atitude ousada e fiel, descreve uma doutrina extremamente profunda sobre a Santíssima Trindade em uma única oração, sendo inclusive citada no Catecismo da Igreja Católica (CIC 260): 

Elevação à Santíssima Trindade

Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para me fixar em Vós, imóvel a pacifica como se a minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundidade do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei nela o vosso céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que aí permaneça com todo o meu ser, bem desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa Ação criadora.
Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-Vos de glória, quereria amar-Vos... até morrer de amor ! Mas sinto a minha impotência a peço-Vos para me "revestir de Vós mesmos", para identificar a minha alma com todos os movimentos da Vossa alma, para me submergir, invadindo-me, a substituindo-Vos a mim, para que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, a como Salvador. 
Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos, quero tornar-me inteiramente dócil, para tudo aprender de Vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero fixar-Vos sempre a permanecer sob a vossa grande luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que eu não possa jamais sair da vossa irradiação.  
Ó Fogo consumador, Espírito de amor, "descei sobre mim", para que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, debruçai-vos sobre a vossa pequena criatura, "cobri-a com a vossa sombra", não vendo nela senão o "Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências".
Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-Vos em mim para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas".
     Sua mensagem central é que corramos no caminho da santidade, pois o Espírito Santo eleva o nosso espírito, para que sejamos de forma autentica um louvor de glória à Santíssima Trindade e acima de tudo, sejamos sempre dóceis às moções do Espírito Santo.

Oração
Deus, rico em misericórdia, que revelastes à beata Elisabeth da Trindade o mistério de vossa presença escondida na alma do justo, e dela fizestes uma adoradora em espírito e verdade, concedei-nos, por sua intercessão, que também nós, perseverando no amor de Cristo, mereçamos ser transformados em templos do Espírito de Amor, para louvor de vossa glória. Amém.
Beata Elisabeth da Trindade, rogai por nós!

“A Trindade: aquí está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair... Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma.
No dia em que compreendi isto, tudo se iluminou para mim".
 

A bela homilia de um exorcista do Vaticano I

Posted by Luiz Fernando Vieira


      Hoje a Igreja faz memória deste insigne pastor, o Beato Francisco Palau (1881 - 1872). Frade Carmelita Descalço e eremita que amou a Igreja e por ela gastou sua vida. Exerceu o ministério de Exorcista, foi padre conciliar do Vaticano I, segue uma de suas mais belas homilias:

      "Deus em sua providência, dispôs não remediar nossos males, nem nos conceder suas graças, senão mediante a oração, e que pela oração de uns sejam salvos outros. (cf. Tg 5,16ss). Se os céus enviaram seu orvalho e as nuvens choveram o Justo, se abriu-se a terra e brotou o Salvador (cf. Is 45, 8), quis Deus que, à sua vinda, precedessem os clamores e súplicas dos santos profetas, particularmente as súplicas daquela Virgem singular que conquistou os céus com a fragância de suas virtudes e atraiu a seu seio o Verbo incriado. O Redentor veio e por meio de uma oração contínua reconciliou o mundo com seu Pai. Para que a oração de Jesus Cristo e os frutos da sua redenção se apliquem a alguma nação ou povo, para que haja quem o ilumine com a pregação do Evangelho e lhe administre os sacramentos, é indispensável que haja alguém ou muitos, que, com gemidos e súplicas, com orações e sacrifícios, tenha antes conquistado aquele povo e o tenha reconciliado com Deus.
     A isto, entre outros fins, se dirigem os sacrifícios que oferecemos em nossos altares. A Hóstia Santa que apresentamos neles todos os dias ao Pai, acompanhada de nossas súplicas, não é só para renovar a memória da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, mas também, para obrigar com ela o Deus de bondade a que se digne aplicar a redenção de seu Filho à nação, província, cidade, aldeia, àquela ou àquelas pessoas por quem se celebra a santa missa. Nela é onde propriamente se negocia a redenção com o Pai, ou seja, a conversão das nações. Antes que a redenção se aplicasse ao mundo, ou, o que é o mesmo, antes que o estandarte da cruz fosse hasteado nas nações, o Pai dispôs que seu Unigênito, feito carne, o negociasse com "súplicas contínuas, com veemente clamor e lágrimas" (Hb 5,7), com angústia de morte e com derramamento de todo o seu sangue, especialmente no altar da cruz, que levantou sobre o Calvário.
     Deus, para conceder suagaça ainda àqueles que não a pedem nem podem ou não querem pedí-la, dispôs e ordenou: "Orai uns pelos outros par que sejam salvos" (Tg 5, 16ss). Se Deus deu a graça da conversão à Santo Agostinho, foi devido às lágrimas de Santa Mônica, e a Igreja não teria São Paulo, diz um santo Padre, se não fosse a oração de Santo Estevão. E é digno de notar-se aqui que os aoóstolos, enviados a pregar e ensinar a todas as nações, reconhecem que o fruto de sua pregação era efeito mais de sua oração que de sua palavra quando, na escolha dos sete diáconos para que se encarregassem das obras externas de caridade, dizem: "Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da palavra" (At 6,4). Reparem bem, dizem que se aplicarão primeiro à oração e só depois desta ao ministério da palavra, porque sem dúvida, nunca foram converter um povo sem antes que na oração tivessem conseguido que se convertessem.
     Jesus Cristo empregou toda a sua vida em orar e só três anos para pregar!
     Assim como Deus não concede suas graças aos homens senão mediante a oração, porque deseja que o reconheceçamos como a fonte de onde dimana todo bem, assim também mão nos quer salvar dos perigos, nem curar-nos as chagas, nem consolar-nos nas aflições senão mediante a mesma oração"
 
Escritos Espirituais do Beato Francisco Palau, presbítero:
Luta da alma com Deus, Roma 1981, pp. 42-44; 135-136.


Vivo sem viver em mim

Posted by Luiz Fernando Vieira




Vivo sem viver em mim
e tão alta vida espero
que morro por não morrer.
Vivo já fora de mim
depois que morro de amor
porque vivo no Senhor
que me escolheu para Si:
dei meu coração para Ti
e pus nele o dizer
que morro por não morrer.

Esta divina prisão 
de amor em que vivo
fez de Deus o meu cativo
e livre meu coração.
Causa em mim tanta paixão
Deus meu prisioneiro ser, 
que morro por não morrer.

Ai, que longa é esta vida!
Quão duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros
em que a alma está aprisionada!
Só de esperar a saída
me causa tal padecer
que morro por não morrer.

Ai, como a vida é amarga
sem a alegria do Senhor.
Do Pai tão doce é o amor, 
e a esperada hora tão longa!
Tira-me Deus esta carga, 
este aço não vou poder
que morro por não morrer.

Vivo com uma confiança:
qualquer hora hei de morrer
pois morrendo ei de viver
me sustenta esta esperança.
Morte que o viver alcança,
não tardes em me querer, 
que morro por não morrer.

Olhe como o amor é forte!
Vida, não sejas molesta:
veja que somente resta
eu perder-te e achara o norte;
venha já, ó doce morte, 
me matar sem se deter
que morro por não morrer.

Lá do alto segura eu viva
a vida que é verdadeira;
Nesta vida, tão ligeira,
não há gozo que me sirva.
Morte, não sejas esquiva,
vai matando o meu viver,
que morro por não morrer.

Ó vida, que posso eu dar
a meu Deus, que vive em mim, 
a não ser perder-te a ti
e a Ele melhor gozar?
Morrendo eu quero alcançar
só Ele me basta ter
que morro por não morrer.




Já toda me dei a Ti,
E de tal sorte hei mudado,
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.

Quando o doce Caçador
me atirou e fui rendida,
e nos braços do amor
minh’alma estacou, caída,
recobrando nova vida
de tal modo hei mudado
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.

Atirou-me com uma seta,
enarvorada de amor,
e minha alma quedou feita
una com seu Criador;
já não quero outro amor,
a meu Deus já me hei dado,
que o Amado é para mim
e eu sou para o meu Amado.


Teresa, a de Jesus

Posted by Luiz Fernando Vieira

   
 Caros amigos leitores, hoje  meu coração se enche de uma alegria imensa, pois com a Igreja celebro aquela que, tanto me ensinou na vida espiritual. Quando penso em Teresa de Jesus, penso na palavra MÃE...Há como descrever? Sempre, por mais que fale-se, faltar-nos palavras!Como diz Mário Quintana:
"Mãe...São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras...
E nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de s er tão grande
Como o bem que ela nos quer...
Palavra tão pequenina
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanmho do céu
E apenas menor que Deus!"
     Teresa é a mais pura expressão de como relacionar-se com Deus. A Espiritualidade Teresiana não é outra senão a espiritualidade da amizade do homem com Deus. Conhecê-Lo e estar com Ele, amá-Lo como merece e ser-lhe fiel, como acontece naturalmente com uma amizade. É possível construir no tempo amizades que se eternizam, com Deus acontece um diferencial extremamente pleno: estabelecemos uma amizade que nos antecede, nos plenifica e nos salva.
      Sendo uma mulher, que viveu na Idade Média, Teresa não se acomodou diante das atrocidades religiosas de seu tempo, mas numa atitude de amor e de fidelidade ao Divino Amigo, ousa tornar fecunda suas obras, reformando seus costumes, convertendo suas ações, vivendo a radicalidade do despojamento interior, a obediência perfeita e uma castidade sagrada.
        Desde seu nascimento em 1515, a Igreja sofria muito, num mundo medievo, onde o cristianismo vivia religiosamente profano. E suas ações revelam um carater unico que definine o dom da amizade; a fidelidade!
        Quisera publicar o que Teresa, minha mãe, me ensinou, porém, dentre as  os mistérios que envolvem o céu e a terra, confesso-vos: com Teresa chega-se a Deus...E Nele, nós nos perdemos num encontrar-se sereno que a alma tanto busca.

                                            Santa Teresa, Luz da santa Igreja, roga por nós!


Padre Diocesano, luz da Santa Igreja.

Posted by Luiz Fernando Vieira



     “Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir.” Assim diz São Gregório Magno, na sua Regra Pastoral.
     Todo sacerdote é capaz de encontrar na Sagrada Escritura, a doutrina necessária para anunciar o Cristo, sacerdote preparado é aquele que ama a Palavra de Deus e ante de estuda-la, faz da mesma sua oração preferida. Assim diz São Paulo: “Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores” (Tt 1, 9) e o profeta Malaquias também diz: “Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei, porque é um mensageiro do Senhor” (Ml 2, 7).
     O grande Papa Gregório Magno, foi um autêntico profeta do seu tempo, que reluz na vida pastoral da Igreja de forma eficaz, ativa e consciente. Ele diz que um sacerdote tem por ofício ser um arauto. Portanto, contemplando a firmeza e a verdade de suas palavras, podemos encontrar em toda a Igreja, homens que, mediante o esforço pessoal e a graça incondicional de Deus, anunciam sem cessar o Reino de Deus, como diz o Salmo 114: “Vossos amigos, ó Senhor, anunciam vosso Reino Glorioso, narrem a glória e o esplendor do vosso Reino e saibam proclamar vosso poder, para espalhar vossos prodígios entre os homens”.
     Dessa forma, é justo quando a Igreja recorda seus insignes pastores, que deram a vida pelo rebanho, seguindo os passos de Cristo. Hoje, a Igreja presta culto e homenagem, ao glorioso São João de Ávila, novo sacerdote Doutor da Igreja.
    O Padre João de Ávila, nascido em 1500, foi um sacerdote diocesano espanhol. Seus pais possuíam ascendência judia e eram nobres mineradores. Estudou Direito em Salamanca, mas sentindo o chamado a uma vida de oração, abandonou os estudos e retirou-se para Almodóvar, onde viveu piedosamente em penitência.
     Depois, aos 20 anos, estudou Artes e Teologia em Alcalá, ordenou-se sacerdote aos 26 anos e celebrou sua primeira missa em sufrágio da alma de seus pais, que já haviam falecidos. Como havia abraçado o sacerdócio, vendeu toda a sua herança e distribuiu entre os pobres, assim iniciou sua evangelização no povoado em que nasceu.
     Com apenas um ano de sacerdócio, desejou muito ser missionário na América, mas a necessidade de padres na Espanha era grande e o arcebispo conseguiu dissuadi-lo. Apaixonado pela Sagrada Escritura, escreveu muitos comentários sobre os mais variados livros da Bíblia, porém, o comentário feito do Salmo 44, teve um sucesso em toda a Espanha, por possuir um caráter verdadeiramente ascético, que impressionou inclusive o Rei espanhol Filipe II. O Arcebispo de Toledo, disse sobre este comentário: “O comentário de Padre João converteu mais almas do que o numero de letras que ela continha”. Assim, este opúsculo marcou positivamente sua literatura ascética posterior e o projetou de tal modo que não há autor religioso do século XVI tão consultado como João de Ávila.
     São João de Ávila foi o examinador dos livros de Santa Teresa de Ávila, relacionou-se com frequência com Santo Inácio de Loyola e os membros da Companhia de Jesus, que muito se esforçaram para leva-lo à sua Ordem, mas não o convencendo, pois tinham dentro de si, a convicção a que fora chamado. Também conviveu e relacionou-se com São Francisco de Borja, São Pedro de Alcântara e São João de Ribera.
Devido a sua enorme ascendência como pregador, provocou inveja entre o clero e assim, foi denunciado à Inquisição, foi perseguido, encarcerado e esteve sob processo eclesiástico, porém, absolvido por unanimidade.
     Sua pregação era de uma magnitude tão grande e de força notória, que suas palavras converteram o Duque de Gandía, que viria a ser o futuro São Francisco de Borja, assim como também, sua pregação converteu o soldado Juan Ciudad, hoje São João de Deus.
     Em 1554 ficou muito doente e em 1569 faleceu. Foi canonizado em 1970 pelo Papa Paulo VI, hoje faz parte dos trinta e quatro doutores da Igreja Católica.
     Suas obras foram alvo de estudo de muitos teólogos, inclusive do próprio Papa Bento XVI. Pregador exímio e escritor ascético, além do comentário sobre o salmo 44, escreveu o Epistolário espiritual para todos os estados, uma diversidade de cartas, compôs um livro sobre o Santíssimo Sacramento, outro sobre O Conhecimento de Si mesmo e o Contemptus mundo nuevamente romançado. Os seus famosos Sermões se perderam quase todos.
     Sua doutrina sobre o sacerdócio chama-se Tratado sobre o sacerdócio, o qual discorre sobre a sacralidade do sacramento da ordem. Outras obras são: Comentários sobre à carta aos Gálatas, A Doutrina Cristã e As Duas práticas para sacerdotes.
     Assim ele escreve ao comentar o salmo 44: “Ainda que não houvesse inferno para ameaçar, nem paraíso para convidar, nem mandamento para obrigar, o justo faria o que faz pelo amor de Deus somente.” (Audi filia, cap. L).

                            São João de Ávila, presbítero e Doutor da Igreja, rogai por nós!